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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

:: Crendice Popular ::



AMOR DE VERÃO (Andréa Vaz)


Naquele calor intenso de final de tarde
Chegaram muitas nuvens carregadas
E golpes de ventos ligeiros fizeram o maior alarde
Só se ouvia barulhos de portas e janelas
Rapidamente fechando no ritmo das rajadas
Por toda a cidade não se via nem alma penada
Triste fiquei de ver ao longe na praça
Uma pequena mesa em cima uma forma de cocada
De certo foi esquecida no meio daquela barulhada
Quem sabe se eu correr posso aliviar a fome danada
Mas perdi a chance nem para tampar o buraco do dente
Ao ver chegar uma figura para lá de diferente
Sim, ela pegou o doce e no mesmo instante
Caiu um aguaceiro que não se viu igual
Mesmo assim, ela continuou na praça e sentou no banco
Permaneceu comendo o tal como se fosse dia normal
Depois deitou e lá ficou
O tempo ruim virou a noite e foi embora no amanhecer
Menos a tal coitada que parecia desfalecida
Lembrei então que corre uma lenda por aí
Que tem certas trombas d´águas
Que dificilmente chegam sozinhas
Geralmente vêm acompanhadas de uma criatura inquieta
Dizem por aí sem papas na língua ser a tal Virgem Poeta
Que viveu trancada anos em seu quarto sempre a chorar
Pois seus pais não queriam deixar
Ela do seu amor se aproximar
Porém, um dia chorou tanto, tanto,
Feito chuvas torrenciais infindas de pranto
Que até sua casa foi levada com a enxurrada
Só seus pais conseguiram se salvar
E o fim da pobre moça ninguém soube explicar
Nem os restos do corpo puderam velar
Nem mesmo com o tal amor ela pôde ficar
Muitas vezes ela foi vista no meio da tempestade
Como de costume deixa uma marca de sua identidade
Para a primeira pessoa que vê
Entrega uma delicada rosa em botão
Com promessas de amor e união
Ninguém nunca viu o formato de sua face de perto
Apenas repararam nas formas do seu corpo delgado
Que de uma longa capa se descobre nu e liberto
Por fim ela seduz a vítima num beijo encantado
Durante a noite inteira de puro amor
Provoca revolução no coração desesperado
Que volta renovado com vontade de amar
Para ela nada importa
Nem cor, nem sexo, nem idade
Na despedida sempre diz:
“Um dia bem menininha
Fui chamada de Verinha
Cresci e conheci a paquera
Aí me chamaram de Vera
Depois foi tudo desilusão
Por isso choro chuva de Verão
E você que está aí vivendo na solidão,
É só rezar que vou te visitar
E um final feliz eu vou te dar!”
Voltando à desfalecida, só me resta relatar
No momento que caminhei ao encontro da tal estranha
A fim de saber como ajudar
Algo fez subitamente minha perna levantar
E no chão de costas fui parar
Por alguns instantes perdi a consciência
Quando voltei senti meu coração acelerado
Do meu lado estava o amor tão esperado
E no banco apenas um botão de rosa foi encontrado
Fiz uma prece pelo presente dado.

O amor acontece quando menos se espera
Se demorar para acontecer chame a prima Vera.

Crendice Popular, segundo a definição do dicionário Aurélio, significa crença popular absurda e ridícula.


4 comentários:

Marcus 27 de outubro de 2009 às 11:34  

Ao mesmo tempo um texto de terror e de amor, muito bom!

Diego Janjão 29 de outubro de 2009 às 12:41  

Vlw Andrea, obrigado, tb vou te seguir, eu tb faço poesias, mas não tenho um blog delas, elas ficam no recantodasletras.com.br, passa lá, e procure por Diego Costa, e faça uma conta lá tb!

Silvio Junior Wencevoski 29 de outubro de 2009 às 13:21  

Muito bom, parabéns pelo texto!

Voltarei mais vezes para fazer outras leituras. Parabéns!

Abraços.

Gisele De Marie 25 de fevereiro de 2012 às 01:09  

Adorei, amiga! Além de tudo, muito divertido, vou chamar a prima Vera! Ou será a prima Andréa ?rs

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:: Frases para Refletir ::

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa)